O feriadão serviu para uma viagem minha ao município de Pedro Velho, no Rio Grande do Norte. A amizade advinda dos tempos da juventude com Iran Bernardo, um pilarense de quatro costados, atraiu-me até a pequena cidade situada à beira do Rio Curimataú, agora tão seco quanto o Paraíba, em cuja margem meu amigo veio ao mundo, na paraibana Pilar, 64 anos atrás.
Como esses dois rios se parecem: na largura e nas insuficiências de água, a não ser quando uma boa temporada de inverno, fenômeno cada vez mais raro, lhes engorda o leito e os de seus afluentes. Aí, então, é um deus-nos-acuda. As cheias podem invadir, sem dó nem piedade, lavouras, currais e ruas.
Mas, nesta época, magro como boi em pasto seco, o Curimataú não passa de um filete que mal dá para preencher algumas poças. E me vem daí outro espanto: Pedro Velho detém, no subsolo, uma das melhores e mais fartas águas do Rio Grande do Norte, diferentemente do que acontece a uma Pilar para lá de esturricada.
Conheci, ali, dois balneários munidos de piscinas naturais, bares e restaurantes. E me servi da água disposta às torneiras do sítio de Iran, cristalina e absolutamente palatável. É a mesma água também servida à clientela dos carros-pipa contratados pelo Exército em benefício das almas sedentas de Nova Cruz e adjacências.
No mais, fora desse pequeno oásis circunscrito a meia dúzia de propriedades, a seca lambe, impiedosamente, os currais e roçados. O próprio Iran, com seus dois filhos, depende do gotejamento do Curimataú para a subsistência de 50 mil abacaxis ali plantados. A ideia é bombear uns ticos d’água de poços que o trator abrirá na areia. Felizmente, os canos já lhes chegaram, a retirada está devidamente autorizada e uma bomba de pequeno porte já anda a caminho.
Li que Pedro Velho (homenagem ao primeiro governador do Rio Grande do Norte, nos idos de implantação da República) decorreu da fúria do Curimataú. As primeiras habitações foram obrigadas ao deslocamento por quilômetros, até um local a que chamaram Vila Nova. Esta, posteriormente, viraria Pedro Velho, após a emancipação municipal, ou seja, depois do desligamento de Canguaretama. Restam, de seus primórdios, ruínas da capela consagrada a Santa Rita.
Uma sumaumeira, de origem amazônica e tronco impressionantemente vasto, deve ter testemunhado quase todos esses acontecimentos. É, hoje em dia, ela mesma, ponto de atração turística.
A propaganda diz que é preciso 30 homens para abraçá-la. “Chamam esta árvore de Pau Grande. Ela bota uns capulhos de lã. Parece com um pé de barriguda”, me informa Iran, saudoso, certamente, dos seus tempos de menino e do quintal de seus pais, à beira do Paraíba. A exemplo da sumaumeira, a barriguda pare sementes em chumaços que os ventos transportam para bem longe. Para além da saudade.