segunda, 23 de dezembro de 2024
Crack nem pensar

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Publicado em 27/04/2016 07h22

Rum and Coca-Cola

No início de 1940, as Irmãs Andrew, o trio musical feminino que percorria as bases americanas no palco da 2ª Guerra Mundial, aconselhava à tropa uma visita a Trinidade. “Rum and Coca-Cola”, uma das músicas mais aplaudidas, recomendava que, além desse coquetel, a rapaziada ali desfrutasse dos favores das belas caribenhas, mães e filhas, em busca de dólares.

Eis o refrão: “Drinking rum and Coca-Cola/Go down point Koomahnah/Both mother and daughter/Working for yankee dólar”. Os soldados iam ao delírio.

Todo o Caribe há muito estava sob o domínio de Tio Sam. Cuba, particularmente, desde 1898, quando os Estados Unidos derrotaram a Espanha na guerra pela posse da Ilha. O estopim fora o afundamento do USS Maine, enviado ao porto de Havana, para “garantir a segurança dos cidadãos e dos interesses americanos”, onze dias depois de o governo autônomo de Cuba haver tomado o poder.

Uma contraditória explosão do paiol do navio – interna, segundo investigações posteriores – foi atribuída à sabotagem espanhola, precipitando o conflito açulado, a propósito, pelos jornais da cadeia Hearst e Pullitzer.

Nos anos de 1940, época das Andrew Sisters, o esforço de guerra americano já havia levado Hollywood a descobrir as pernas de Carmem Miranda e a cobrir-lhe a cabeça com aqueles imensos chapéus de banana. Walt Dysney, em pessoa, era despachado, enquanto isso, ao Rio de Janeiro, onde criou a figura do Zé Carioca, cicerone do Pato Donald.

Um Getúlio Vargas premido, sobretudo, por torpedeamentos de navios da Marinha Mercante brasileira por submarinos alemães empenhados em cortar o transporte de víveres e matérias primas para a indústria bélica americana, embarcava o Brasil na guerra e cedia o Rio Grande do Norte às tropas aliadas.

Na base aérea de Parnamirim, que exportou o biquíni, o chiclete e a Coca-Cola para o restante do País, os americanos também encontravam os favores de Maria Boa, uma paraibana de Campina Grande dona do melhor cabaré da cidade. Ela chegou a ser homenageada com a inscrição do nome na fuselagem de um dos B-25, os aviões que fizeram estragos nas tropas de Hitler.

O diabo é que isso tudo agora me vem à mente ante a notícia da reaproximação (por assim dizer) entre os Estados Unidos e Cuba. Dois Papas já estiveram na Ilha, o último deles, há poucos dias, para dar bom cabo da missão diplomática que logo precipitaria o desembarque em Havana de Obama e família. O Pentágono ainda resiste à ideia da quebra completa do bloqueio econômico aos vizinhos, mas isso parece ser questão já resolvida.

Pessoalmente, torço a fim de que aos cubanos resultem benefícios muito mais amplos e úteis do que os propiciados pela indústria do turismo. E que ali não mais se repitam os cassinos e cabarés da Máfia que fizeram a alegria do regime ditatorial de Fulgêncio Batista derrubado em 1959. A ver.


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